O Tesouro IPCA+ 2029, título público de longo prazo emitido pelo governo federal, oferece atualmente uma rentabilidade de IPCA + 7,5% ao ano, uma das maiores da série histórica. A rentabilidade elevada tem atraído o interesse de investidores, mas também levantado debates sobre sua real vantagem em comparação a LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) com vencimentos similares e isenção de imposto de renda.
Especialistas do Clube do Valor e influenciadores financeiros como Sofia Martins analisaram os riscos e oportunidades dessa aplicação, destacando aspectos como marcação a mercado, tributação, vencimento e rentabilidade líquida.
Rentabilidade do Tesouro IPCA+ 2029: dados oficiais
De acordo com o site do Tesouro Direto, em junho de 2025 o título Tesouro IPCA+ com vencimento em maio de 2029 oferece:
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Rentabilidade bruta: IPCA + 7,5% ao ano
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Rentabilidade líquida estimada: 11,06% ao ano (já descontada a taxa de custódia de 0,2%)
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Valor futuro estimado para R$ 10 mil aplicados hoje: R$ 15.049,30
Esse retorno considera um cenário de inflação projetada de 5% ao ano, que tem sido a referência de mercado para títulos indexados.
Comparativo com LCA IPCA+ isenta de imposto
No mesmo período, uma LCA IPCA+ com vencimento em junho de 2028, emitida pelo Banco ABC Brasil, oferece:
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Taxa de juros: IPCA + 7,1% ao ano
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Isenção de imposto de renda: válida para pessoas físicas
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Rentabilidade líquida estimada para R$ 10 mil aplicados hoje: R$ 14.194,73
Apesar da taxa nominal ligeiramente menor, a ausência de IR torna a LCA extremamente competitiva para prazos curtos e médios, especialmente quando o investidor ainda não atingiu o limite de cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), que é de R$ 250 mil por instituição, limitado a R$ 1 milhão por CPF.
Risco de marcação a mercado e volatilidade
Segundo análise do Clube do Valor, títulos públicos mais longos — como os vencimentos pós-2035 — apresentam maior exposição à marcação a mercado, ou seja, variações no preço do título conforme as oscilações da taxa de juros. No caso do IPCA+ 2029, com vencimento em menos de 4 anos, esse risco é significativamente menor, o que reduz a volatilidade.
Ainda assim, a marcação a mercado pode causar prejuízos temporários caso o investidor precise vender antes do vencimento. Isso foi observado em 2023, quando investidores em títulos IPCA+ mais longos viram perdas superiores a 15% em seus portfólios devido ao aumento da Selic.
Estratégia fiscal: o impacto do IR sobre o Tesouro IPCA
Ao contrário de LCAs, o Tesouro IPCA+ é tributado pelo IR regressivo, com alíquota mínima de 15% após dois anos. Isso reduz a rentabilidade líquida do investidor. Assim, para comparações justas, é necessário realizar o chamado “gross-up”, ajustando a taxa bruta dos títulos isentos para equivalência com os tributáveis.
Por exemplo:
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LCA IPCA+ 7,1% ao ano (isenta) = CDB ou Tesouro IPCA+ com rendimento equivalente de 8,35% ao ano, considerando IR de 15%
Portanto, para que o Tesouro IPCA+ seja mais atrativo que a LCA, sua taxa líquida precisa superar essa equivalência.
Quando o Tesouro IPCA+ 2029 ainda compensa?
A aplicação continua vantajosa principalmente nos seguintes cenários:
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Para quem já atingiu o limite de FGC e busca segurança soberana
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Para quem pretende manter o título até o vencimento, evitando oscilações de preço
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Para investidores que desejam travar uma taxa real alta por mais tempo, visando aposentadoria ou metas de longo prazo
Entretanto, para investidores com horizonte mais curto, LCAs ou CDBs IPCA+ com vencimento em 2 a 4 anos e boas taxas podem ser alternativas superiores, desde que se observe o risco de crédito e se respeite o limite de garantia do FGC.
Mercado de renda fixa oferece outras oportunidades
Com a taxa Selic em 15% ao ano, o mercado de renda fixa como um todo apresenta oportunidades robustas. Títulos privados como CRAs e CRIs, isentos de IR, têm sido negociados com taxas de IPCA+ 10% ou mais, embora impliquem em riscos maiores e menos liquidez.
Essa elevação generalizada das taxas decorre do cenário macroeconômico atual, marcado por juros elevados, inflação ainda persistente e incertezas fiscais, que pressionam o prêmio de risco exigido pelos investidores.
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