A saída de italianos para o exterior é um fenômeno antigo, mas ganhou um novo perfil. Entre 2023 e 2024, dos 270 mil cidadãos que registraram mudança para fora do país, cerca de 87 mil são naturalizados (1 em cada 3) — pessoas nascidas no exterior, mas que adquiriram a cidadania italiana. Os dados são do Centro Studi e Ricerche IDOS, com base em números do Instituto Nacional de Estatística da Itália (Istat).
A tendência revela um problema que vai além da economia. Esses jovens, em grande parte filhos de imigrantes, cresceram na Itália, estudaram em escolas italianas e falam a língua local. Mesmo assim, não se sentem reconhecidos como italianos.
“Mesmo tendo nascido e crescido aqui, continuam sendo tratados como estrangeiros. Isso os leva a preferir países com sociedades mais maduras e multiculturais”, explica Antonio Ricci, vice-presidente do IDOS.
Discriminação motiva partida
A decisão de sair não é apenas por emprego. Muitos relatam dificuldades para ter a cidadania reconhecida e, mesmo quando conseguem, enfrentam preconceito. Há quem se sinta cidadão de segunda classe, frustrando os planos de integração dos pais, que migraram em busca de um futuro melhor.
As escolhas de destino variam conforme a origem. Segundo o IDOS, 45% dos africanos optam pela França, aproveitando a língua e vínculos culturais. Entre asiáticos, como indianos, paquistaneses e bengaleses, 72% migram para o Reino Unido. Já os sul-americanos dividem-se entre retornar ao país de origem (54%) ou buscar novas oportunidades na Espanha (16%).
Oportunidade perdida
Para o pesquisador, a falta de reconhecimento social e político faz com que esses jovens levem talentos para fora. Muitos têm alto nível de escolaridade, falam mais de uma língua e acumulam experiência internacional.
Sem políticas eficazes de inclusão, a Itália perde profissionais preparados, que se destacam em setores acadêmicos, criativos e digitais nos países de destino. É uma perda silenciosa, mas significativa para uma sociedade que envelhece rápido.
“Sem um reconhecimento simbólico, afetivo e político, até os percursos de sucesso se quebram diante de um sentimento profundo de exclusão”, alerta Ricci.
Para o IDOS, a saída passa a ser uma forma de afirmação pessoal e também de resistência. Em outros países, esses jovens sentem que não são julgados pela origem ou aparência, mas valorizados por suas competências.
A tendência acende um sinal para as autoridades italianas. Se o país não criar condições de pertencimento real, corre o risco de continuar exportando cérebros que poderiam impulsionar a economia e fortalecer uma sociedade mais plural.
Populismo e falta de vínculo
Além da exclusão social, políticas populistas como as defendidas por Antonio Tajani, atual ministro das Relações Exteriores, reforçam o afastamento. O discurso que desvaloriza a comunidade ítalo-descendente não cria pontes com quem poderia manter laços afetivos com o país.
Na prática, o resultado é claro: agora, nem mesmo os naturalizados querem manter vínculo com a Itália. Para muitos, ficar já não faz sentido. Partir é uma forma de conquistar respeito que, em solo italiano, parece cada vez mais distante.
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