Em 2014, a usina solar Ivanpah foi inaugurada no deserto de Mojave, na Califórnia, como a maior do mundo e um marco para a transição energética. Custando US$ 2,2 bilhões — parte financiada pelo Google —, o projeto prometia revolucionar a geração de energia limpa com sua tecnologia solar térmica. Porém, 11 anos depois, ela está prestes a ser desativada, e os motivos para esse fracasso vão muito além do que se imaginava.
Um gigante no deserto
Com 173.500 espelhos móveis espalhados por quilômetros de areia, a usina refletia a luz solar para o topo de três torres de 140 metros de altura — mais altas que a Estátua da Liberdade. Ali, a energia térmica gerava vapor para mover turbinas e produzir eletricidade suficiente para cerca de 140 mil casas, com capacidade instalada de 386 megawatts.
A ideia era simples e ambiciosa: concentrar a energia do sol para gerar eletricidade em escala industrial, usando vapor d’água em vez de painéis solares.
O que deu errado?
Na prática, a operação de Ivanpah revelou desafios insustentáveis:
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Baixa eficiência: A precisão exigida pelos espelhos para concentrar a luz corretamente era difícil de manter, resultando em perda de desempenho.
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Altos custos: A manutenção era cara e frequente, com incêndios ocasionais quando os espelhos se desalinhavam, danificando equipamentos.
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Impacto ambiental: A construção afetou o habitat da tartaruga-do-deserto e as intensas rajadas de luz queimaram centenas de aves no ar, gerando polêmica mundial.
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Uso de gás natural: Para iniciar as turbinas e manter a produção em dias nublados, a usina queimava gás natural, o que contrapunha o conceito de energia limpa.
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Concorrência das placas fotovoltaicas: Desde que Ivanpah começou a operar, o custo dos painéis solares despencou, tornando a tecnologia mais barata, eficiente e menos polêmica do que os complexos espelhos e torres da usina.
Em 2016, um incêndio provocado por mau alinhamento dos espelhos já havia exposto os riscos da tecnologia. E, nos anos seguintes, a competitividade do sistema só piorou.
O fim anunciado
Em janeiro de 2025, a NRG Energy, uma das empresas responsáveis pelo projeto, anunciou o início do fechamento gradual da usina, que deve ser concluído em 2026. O local poderá ser reaproveitado para projetos com tecnologia fotovoltaica, hoje predominante no mercado.
Para especialistas, Ivanpah foi um experimento necessário. Fracassos como esse, argumentam, ajudam a identificar limitações, gerar aprendizados e acelerar a evolução tecnológica rumo a soluções mais sustentáveis.
Uma lição para o futuro
A história de Ivanpah é um lembrete de que inovação envolve riscos. Ao mesmo tempo, sua desativação também encerra um capítulo controverso marcado por impactos ambientais e dificuldades técnicas, reforçando o papel das placas fotovoltaicas como líderes no setor.
Para os ambientalistas, o encerramento também traz um alívio para a fauna local, que sofreu ao longo da operação com as intensas emissões de calor.
Como disse um especialista: “A inovação só avança quando alguém se arrisca a errar.”
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