Venda do GARE11 para fundo da XP levanta alerta entre investidores

O fundo imobiliário GARE11 anunciou uma operação polêmica: a venda de 10 imóveis para um fundo recém-criado pela XP Asset, ao mesmo tempo em que investirá até R$ 80 milhões como cotista subordinado do mesmo veículo comprador. A estrutura gerou fortes críticas por sua complexidade e por levantar potenciais conflitos de interesse.

Estrutura da transação: venda ou reaproveitamento?

No relatório gerencial de maio, divulgado tardiamente em 22 de julho, a gestão revelou a operação: a venda de imóveis a um valor estimado entre R$ 465 milhões e R$ 485 milhões, sendo:

  • 4 lojas do Pão de Açúcar;

  • 3 unidades do Grupo Mateus;

  • e outros ativos urbanos do portfólio.

Esses ativos estão vinculados a operações de CRIs, e a venda acarretará a amortização antecipada de parte relevante da dívida do GARE11, estimada em R$ 150 milhões, o que corresponde à metade do passivo consolidado do fundo.

No entanto, além de vender, o GARE11 assumirá uma posição como cotista subordinado do fundo comprador, recebendo somente lucros excedentes futuros, se houver.

“Se não houver excedente, o GARE11 simplesmente não recebe nada por sua posição subordinada”, criticou um analista do setor.

Entenda por que a estrutura preocupa

1. Venda com reaproveitamento

O fundo da XP — chamado de XP Renda Imobiliária — foi criado especificamente para adquirir esses imóveis. O GARE11, ao participar como cotista subordinado, ajuda o próprio comprador a se financiar. Esse tipo de estrutura lembra o criticado modelo da TRXF11 com o CPUR11, em que o mesmo gestor está em lados diferentes da mesa.

2. Risco elevado para o cotista

A cota subordinada, da qual o GARE11 será detentor, só recebe após a amortização total da cota sênior. Ou seja, se os imóveis não gerarem excedente no tempo previsto, o fundo poderá não ver retorno algum sobre os R$ 80 milhões alocados.

3. Parcelamento do valor da venda

A operação prevê que parte do pagamento será parcelada entre 24 e 60 meses, postergando a entrada efetiva de caixa. Isso limita o uso do capital em novas oportunidades e pode impactar a distribuição de rendimentos.

Impacto no patrimônio e dividendos

A gestão estima um impacto patrimonial positivo entre R$ 0,42 e R$ 0,50 por cota, decorrente da diferença entre o valor de venda e o valor contábil dos imóveis.

Quanto aos rendimentos mensais, o fundo projeta uma distribuição entre R$ 0,083 e R$ 0,09 por cota no segundo semestre de 2025. Entretanto, vale lembrar: a taxa de performance poderá ser acionada, caso o lucro contábil aumente.

Dados financeiros do GARE11 (julho de 2025)

Indicador Valor
Cotação atual R$ 8,90
Valor patrimonial (VP) por cota R$ 9,02
P/VP 0,99
Patrimônio líquido R$ 1,3 bilhão
Liquidez média diária R$ 5,9 milhões
Número de ativos 39 imóveis
Número de cotistas 370 mil

O prospecto do fundo da XP ainda inclui o ativo logístico BRF Salvador, anteriormente pertencente ao portfólio do GARE11. O imóvel conta com cláusula que permite recompra futura pelo locatário, transferida junto com o ativo.

Críticas ao modelo: “complexidade desnecessária”

Especialistas apontam que o movimento do GARE11 vai contra o que os cotistas esperam: uma gestão simples, focada em compra, aluguel e venda de imóveis. A estruturação de uma operação em que o fundo participa como vendedor e financiador do comprador é vista como desnecessária e pouco transparente.

“Se os imóveis têm tanto potencial de valorização, por que vendê-los e não esperar o cenário macroeconômico melhorar?”, questionam analistas.

A crítica principal recai sobre o possível desalinhamento entre a gestão e o cotista, que parece não ter prioridade na estrutura da operação.

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