Justiça manda indenizar sobrevivente de acidente aéreo que matou dois paraquedistas em Boituva


Destroços do avião que capotou, após pouso de emergência em Boituva (SP), em maio de 2022, provocando a morte de duas pessoas: sobrevivente ganha direito a indenização
Prefeitura de Boituva/Divulgação
Um dos sobreviventes do acidente com avião de paraquedistas em maio de 2022, em Boituva (SP), ganhou na Justiça o direito de ser indenizado pelos traumas sofridos. No acidente, duas pessoas morreram e outras nove ficaram feridas – sendo cinco delas com lesões graves. Cabe recurso.
Em decisão da 3ª Vara Cível (Regional Pinheiros), de São Paulo, o instrutor de paraquedismo Guilherme Bergamo dos Santos Kenworthy deve receber R$ 20 mil da empresa Skydive4fun, proprietária do avião, como indenização por danos morais.
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A sentença é de junho, mas o g1 teve acesso apenas na quarta-feira (6). Nela, o juiz Swarai Cervone de Oliveira reconheceu que a vítima sofreu abalo emocional e trauma psíquico, condenando a empresa à indenização.
Guilherme Kenworthy era um dos 15 paraquedistas a bordo do Cessna 208 Caravan, que viveram momentos de desespero em 11 de maio de 2022, quando o avião apresentou pane no motor durante o voo, a 350 metros de altura.
A aeronave fez um pouso de emergência em área rural, batendo em barranco e capotando.
Imagens exclusivas do interior do avião em acidente aéreo que matou 2 em Boituva
O acidente foi registrado pelas câmeras dos capacetes dos paraquedistas, desde o momento em que o piloto declara emergência até a colisão do solo.
As imagens serviram para peritos do Cenipa embasarem o relatório, finalizado nesta semana, com as prováveis causas da tragédia.
Conforme o processo, Kenworthy teve fratura na tíbia esquerda e lesão no punho. Ele alegou ainda ter sofrido danos psicológicos em virtude da iminência da própria morte.
O instrutor, que estava a passeio na ocasião, saiu sozinho das ferragens do Cessna e ajudou a retirar outros feridos de dentro do aparelho e também os corpos das vítimas mortas, conforme conta o advogado André Furegate, do escritório que o representa no processo.
“A decisão reconhece o direito moral do sobrevivente de acidente aéreo a ser indenizado”, comentou o advogado. Segundo ele, a empresa pagou pelos danos materiais sofridos por Kenworthy, mas não conseguiu reparar o trauma sofrido.
Apesar da decisão favorável, a defesa do instrutor anunciou que vai recorrer para elevar o valor da indenização.
Inicialmente, Kenworthy havia pedido R$ 100 mil. Mas o juiz entendeu que, embora submetido a forte experiência traumática, a vítima não sofreu sequelas permanentes.
“Conforme se extrai dos autos, retomou a prática do paraquedismo algum tempo após o acidente, ainda que com compreensível resistência emocional. Tais elementos demonstram que, embora tenha havido sofrimento significativo, não se pode afirmar impacto psicológico incapacitante ou de longa duração, a justificar valor expressivamente elevado”, argumentou o magistrado.
A Skydive4fun também apresentou recurso contra a decisão. O caso agora vai para análise pelo Tribunal de Justiça. Em nota enviada ao g1, a assessoria jurídica da empresa informou que não comenta o processo em razão da Lei Geral de Proteção de Dados (Lei nº 13.709/2018 – LGPD).
Outro sobrevivente
Outro sobrevivente do acidente, o ex-instrutor de saltos Lucas Gemenes Marques ainda luta para se recuperar das lesões sofridas.
Ele teve lesão nas raízes da cervical C5-C6, o que afetou o tronco superior do plexo braquial, limitando o movimento dos braços. Em setembro de 2022, passou por cirurgia.
“No acidente, eu perdi minha profissão. Não consegui mais atuar nela”, declarou Marques, em entrevista à TV TEM.
O ex-instrutor de paraquedismo Lucas Gemenes Marques, durante exercício de reabilitação: ele sofreu lesão nos nervos do plexo braquial, no acidente com avião em 2022, que provocou a morte de duas pessoas em Boituva
Rede social/Reprodução
Relatório
Na terça-feira (5), a Polícia Civil de Boituva informou que anexou o relatório elaborado pelo Cenipa ao inquérito que apura as circunstâncias do acidente. O inquérito foi prorrogado.
No relatório, o Cenipa relaciona a pane do motor do avião ao uso incorreto da alavanca que controla o combustível e a potência da aeronave, chamada de EPL.
Ainda no documento, o órgão aponta ainda que a falta de manutenção nos cintos de segurança contribuiu para as lesões nos passageiros. Um deles chegou a ser arremessado para fora após o avião fazer um pouso forçado e capotar no pasto.
Vítimas
Na queda da aeronave, dois paraquedistas morreram: André Luiz Warwar, 53 anos, e Wilson José Romão Júnior, 38.
Outras cinco pessoas ficaram com lesões graves. Quatro tiveram ferimentos leves. E cinco não se machucaram.
Vítimas foram identificados como André Luiz Warwar, de 53 anos, e Wilson José Romão Júnior, de 38, em Boituva (SP)
Arquivo pessoal
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