
Peixe anda? Cientistas flagram peixes escalando cachoeira em MS
Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) estudam o comportamento inusitado de um peixe raro que foi flagrado escalando cachoeiras. A espécie, conhecida como bagre-abelha (Rhyacoglanis paranensis), chamou atenção ao ser registrada subindo paredes rochosas com mais de 4 metros de altura. Veja o vídeo acima.
O flagrante foi feito por policiais militares ambientais na Cachoeira do Sossego, em Corguinho (MS). Centenas de bagres-abelha foram vistos escalando rochas com altura entre 1 e 4 metros.
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Conforme o estudo, publicado neste mês no Journal of Fish Biology, este é o primeiro registro de escalada e de aglomeração em massa entre peixes da família Pseudopimelodidae.
Apesar de viverem em várias regiões, os bagres-abelha são considerados raros, e pouco se sabe sobre sua biologia. Para os pesquisadores, o achado mostra a importância das observações em campo para entender o papel ecológico e a conservação de pequenos peixes migratórios.
O bagre-abelha mede até 9 centímetros e tem aparência chamativa, com manchas escuras sobre o corpo claro e nas nadadeiras. A pesquisa mostra que a espécie ainda é pouco conhecida. Os peixes vivem em rios com correnteza forte e fundo rochoso e precisam migrar para se reproduzir.
Flagrante de escalada
Uma semana após o registro feito pela Polícia Militar Ambiental (PMA), os pesquisadores foram até a região. Pela primeira vez, viram milhares de peixes subindo lentamente o rio. O mesmo comportamento foi observado na Cachoeira Diamantes, em Rochedo (MS).
Com autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SisBio), um dos 439 peixes foi capturado para análise.
Durante o dia, os peixes ficavam escondidos sob rochas e em áreas sombreadas. Mas à noite, os pesquisadores observaram um comportamento inusitado: milhares deles começavam a subir as pedras.
Os bagres foram vistos em poças próximas às margens, subindo encostas íngremes e até superfícies verticais com água corrente. Em algumas pedras, a concentração era tanta que eles formavam verdadeiras “paredes de peixes”, empilhados uns sobre os outros. A maioria, porém, subia sozinha. Alguns chegaram a escalar o teto de fendas, de cabeça para baixo, e até objetos artificiais.
Como os peixes escalam?
Segundo o estudo, os bagres usam as nadadeiras abertas, a cauda e movimentos laterais para se impulsionar. Eles também parecem formar uma cavidade entre o corpo e a rocha, criando pressão negativa que ajuda na fixação.
Comportamentos semelhantes já foram registrados em outras espécies de rios com forte correnteza, mas a musculatura usada pelo bagre-abelha ainda não foi totalmente entendida.
Estudo do comportamento
Os pesquisadores analisaram 14 peixes: quatro fêmeas adultas, cinco machos e cinco jovens. Ainda não se sabe como a espécie se reproduz, mas acredita-se que a migração em massa, logo no início das chuvas, esteja ligada à desova.
O conteúdo estomacal mostrou que eles não se alimentam durante a migração. A espécie vive na bacia do rio Paraguai-Paraná, uma das mais estudadas da América do Sul, o que pode explicar a grande concentração registrada no rio Aquidauana.
O estudo foi liderado pela professora Manoela Marinho, do Instituto de Biociências (Inbio) da UFMS, com participação dos pesquisadores Eris de Paula, Francisco Severo Neto, Yasmim Santos e Heriberto Gimênes Junior.
Peixes foram flagrados escalando cachoeira.
Imagens cedidas/ Manoela Marinho
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