Desde pequena nutri o sonho de ser “doutora”, inspirada por minha mãe e minha tia, mulheres batalhadoras que sempre valorizaram os estudos como única herança possível em nossa família simples.Durante a faculdade, trabalhei para conquistar independência financeira, mas logo percebi que a advocacia não era meu caminho. Foi atuando no setor de conciliação, que meu sonho pela magistratura se intensificou. Participando de mutirões pelo Brasil, conheci de perto a rotina dos magistrados e me encantei. Observando aquela rotina, a postura, os posicionamentos e as decisões que transformavam vidas, soube que era ali que eu precisava estar.Aos 27 anos deixei o emprego para me dedicar integralmente aos estudos. Ingressei na EMERJ e comecei minha jornada como concurseira em 2015, estabelecendo a meta de estar togada aos 30 anos. A realidade foi bem diferente – enfrentei reprovações, momentos de desespero e questionamentos sobre desistir.Nessa difícil vida de viagens para fazer provas de concurso, repleta de frustrações e lágrimas no avião de volta, foi que a Bahia me encontrou. Desde o primeiro momento que pisei em Salvador, algo mágico aconteceu – a Bahia conspirou a meu favor. A música “Ah que bom você chegou, bem-vindo a Salvador” tocou no táxi, como se fosse um chamado do destino. Era como se minha alma reconhecesse seu verdadeiro lar.Passei na primeira fase com muita luta; o concurso foi suspenso e refeito, consegui chegar à prova oral. Durante esse período, descobri que estava grávida – foi um momento de pânico e felicidade simultâneos. Com gravidez avançada, viajei para Salvador em plena pandemia para fazer a prova oral com meu barrigão, determinada a não perder essa oportunidade.Meu filho nasceu durante a espera do resultado do concurso, e o parto foi traumático – ele ficou sem respirar e precisou de UTI. Renasci como mãe naquele momento. O puerpério foi devastador, coincidindo com o fim do meu casamento, quando meu filho tinha apenas sete meses.Tornei-me mãe solo, sem renda e enfrentando uma das fases mais difíceis da minha vida. Foi então que encontrei na docência uma salvação. Fui acolhida no curso onde, atualmente, leciono. Lentamente me reergui, conquistei independência financeira e voltei a lutar pelo meu sonho.Após anos de espera angustiante, finalmente veio a nomeação para o cargo de juíza do TJBA. O dia da posse foi o melhor da minha vida – realizar o sonho ao lado das pessoas que amo, especialmente minha mãe e minha tia, foi indescritível! Hoje acordo todos os dias como quem vive um sonho, trabalhando no lugar onde nasci para estar, criando meu filho em paz e honrando a toga que tanto lutei para conquistar.A Bahia me escolheu e me acolheu como lar. O Tribunal de Justiça da Bahia é onde encontrei a consagração e realização de todos os meus sonhos – sei que estou exatamente onde deveria estar e encontrei minha verdadeira vocação. Carrego a certeza de que tenho nas mãos a possibilidade de transformar vidas através da magistratura e, diariamente, faço de tudo para honrar essa escolha.Esta é apenas uma síntese da minha jornada – quem desejar conhecer a história completa poderá encontrá-la no livro “Magistrada: a justiça na ótica delas”, em coautoria dessa articulista.*Thais de Carvalho Kronemberger é juíza de Direito da Vara Plena da comarca de Santana (BA)
Enfim, juíza: os desafios de uma mulher e mãe em busca da toga
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