Cinco faculdades de medicina na Bahia estão sob risco após notas baixa

Nos últimos anos, houve um aumento considerável no número de cursos de medicina em todo o Brasil, mas esse crescimento não foi acompanhado, necessariamente, pela qualidade. É o que mostram as avaliações, como Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), por exemplo. Na Bahia, das 35 instituições que oferecem o curso, doze possuem nota 3, outras cinco nota 2, e apenas duas têm 5, a nota máxima.Para garantir um nível mínimo na formação desses futuros médicos, o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou na última terça-feira que o Ministério da Educação (MEC) passará a aplicar, já a partir deste ano, o Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed) e instituições com notas baixas podem ser punidas, com limitação no número de novos alunos ou ter o ingresso de novos estudantes suspenso, entre outras medidas.“Entendemos que essa decisão, ainda que positiva, é muito tardia, já que nos últimos anos houve um crescimento desordenado de faculdades de medicina. Muitas dessas faculdades sem professores médicos, com profissionais de outras áreas, como enfermeiros, fisioterapeutas, biólogos, biomédicos, e isso gerou uma queda imensa na qualidade da assistência à saúde da nossa população”, afirmou o diretor da Associação Bahiana de Medicina (ABM), Hélio Braga.Notas baixas na BahiaImpedimento de ampliação de vagas; suspensão de novos contratos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies); suspensão da participação do curso no Programa Universidade para Todos (Prouni); suspensão da participação do curso em outros programas federais de acesso ao ensino superior; redução de vagas para ingresso (cursos nota 2); e suspensão de ingresso de novos estudantes (cursos nota 1) são as possíveis punições para instituições com notas baixas.Em toda a Bahia, das 35 instituições que possuem o curso de medicina, apenas duas tiveram nota máxima no Enade 2023, a Universidade Federal da Bahia e a Universidade Estadual Do Sudoeste Da Bahia, ambas com nota 5. Já entre as seis com nota 4, cinco são de instituições públicas; cerca de 17 outras instituições, quase 50% do total, possuem notas entre 2, consideradas insatisfatórias e 3, consideradas regulares pelo MEC. É possível que esse número seja maior, já que outras dez faculdades não estão com notas disponíveis no MEC.Diretrizes CurricularesAs novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para cursos de medicina foram aprovadas, por unanimidade, pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), este mês.Ca condição de vice-reitor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, única instituição privada a receber nota 4 do Enade no estado, Humberto Castro Lima pontua que o curso de medicina cedeu à lógica mercantilista, então a iniciativa do MEC será muito bem vinda e vai permitir uma análise mais sistemática do ensino.“Os cursos de medicina são, em última instância, para atender uma necessidade de saúde da nossa população, (…) então é importante a gente se preocupar com a qualidade e com a distribuição dos médicos. Eu acho que havia uma necessidade de ampliação (do número) de médicos, mas acaba que esse cenário foi e tem sido explorado de uma forma mercantil extrema, explorando educação médica como uma commodity”, disse.Público x PrivadoOs estudantes João Victor Monteiro, da União Metropolitana para o Desenvolvimento da Educação e Cultura (Unime) e Anannda Sampaio, da Universidade Federal da Bahia, ambos do sétimo semestre, vivem realidades completamente opostas.“Eu falo que o curso aqui é bom por conta dos alunos, porque são de baixa renda, do Fies. A estrutura da faculdade (que eu estudo), quando comparada a outras instituições de medicina chega a ser ridícula; a gente não tem um projetor decente e o teto da sala vaza água”, afirmou João Victor.Ele, que é estudante contemplado com o Fies, associa a precarização de instituições privadas a pouca mobilidade de estudantes que são atendidos pelo programa, o que, segundo ele, mantém o estudante naquela faculdade, mesmo abaixo do esperado.“Aqui na Ufba a gente tem uma unidade de universidade-escola, e isso possibilita a gente, no caso do hospital universitário, uma realidade mais aproximada com o paciente, enquanto outras faculdades não existe essa possibilidade, então claro que o aprendizado vai ser muito diferente”, disse Annanda.Dos 35 cursos no estado, 27, ou seja, 77% dos cursos de medicina na Bahia foram criados nos últimos 15 anos, de acordo com dados do MEC, e depois desse aumento expressivo, a professora Nélia Neri Araújo, defende que o Enamed é uma proteção à sociedade. Neri é supervisora do programa de residência em clínica médica do Hospital Universitário Professor Edgar Santos e Faculdade de Medicina da Ufba.“Houve uma profusão de escolas médicas nos últimos anos, né? E muitas dessas escolas não têm campo de prática, e a medicina não é um curso que pode ser feito com aula teórica, com aula a distância, não. Exige a prática e a prática supervisionada, né? Então eu acho que é uma tentativa de garantir uma qualidade mínima para esse médico que vai atuar mesmo no mercado, na vida”, enfatiza a professora.*Sob a supervisão da editora Isabel Villela
Adicionar aos favoritos o Link permanente.