PrEP injetável mostra mais eficácia e adesão que versão oral

Com mais de 1 milhão de pessoas vivendo com HIV no Brasil e 46,5 mil novos casos registrados apenas em 2023, o país avança em uma mudança significativa na prevenção do vírus. A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) injetável à base de cabotegravir, aprovada pela Anvisa desde 2023, vem se consolidando como uma resposta promissora: estudos recentes mostram que ela oferece maior proteção contra o vírus em comparação com a PrEP oral.A expectativa agora é pela incorporação do medicamento ao Sistema Único de Saúde (SUS), o que pode acelerar a redução das infecções e ampliar o alcance da profilaxia entre populações em maior risco.

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O que é a PrEP?A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) é uma estratégia de prevenção combinada ao HIV indicada para pessoas que não vivem com o vírus, mas que têm maior risco de exposição. De acordo com o Ministério da Saúde, algumas situações que podem indicar o uso do medicamento:Frequentemente deixa de usar camisinha em suas relações sexuais (anais ou vaginais);Faz uso repetido de PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV);Apresenta histórico de episódios de Infecções Sexualmente Transmissíveis;Contextos de relações sexuais em troca de dinheiro, objetos de valor, drogas, moradia, etc.Chemsex: prática sexual sob a influência de drogas psicoativas (metanfetaminas, Gama-hidroxibutirato (GHB), MDMA, cocaína, poppers) com a finalidade de melhorar e facilitar as experiências sexuais.A profilaxia consiste no uso de antirretrovirais antes da exposição ao vírus, reduzindo drasticamente o risco de infecção — em até 95% nos casos em que há adesão adequada.Atualmente, o Brasil oferece a PrEP oral no Sistema Único de Saúde (SUS), com um comprimido diário contendo tenofovir + entricitabina. A estratégia, no entanto, depende da disciplina no uso diário, o que impacta diretamente a efetividade, especialmente entre jovens.

A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) oral

|  Foto: Divulgação | Ministério da Saúde

Cabotegravir: como funciona a PrEP injetávelO cabotegravir é um antirretroviral de ação prolongada. Ao invés de tomar comprimidos diariamente, o usuário recebe uma injeção intramuscular com efeito que pode durar até dois meses. A proposta, além de simplificar o regime, visa aumentar a adesão e reduzir a taxa de abandono.O regime recomendado começa com uma dose inicial, seguida de uma segunda injeção após um mês. A partir da terceira dose, o esquema de manutenção passa a ser bimestral. A aplicação é feita na região glútea.Quem pode usar?Segundo a Anvisa, o cabotegravir é indicado para adultos e adolescentes com mais de 12 anos, peso mínimo de 35 quilos e que testem negativo para HIV. O teste deve ser feito antes de iniciar o tratamento e repetido antes de cada nova injeção, como medida para evitar o desenvolvimento de resistência ao medicamento.Na versão oral, o cabotegravir também é utilizado para avaliar a tolerância do paciente antes da administração da injeção, ou ainda como substituição provisória em caso de perda de uma dose injetável.Estudos indicam maior eficácia e adesãoDois estudos clínicos de larga escala, HPTN 083 e HPTN 084, reuniram mais de 7.700 participantes de 13 países, incluindo o Brasil, e avaliaram a eficácia do cabotegravir de ação prolongada. Os ensaios foram encerrados precocemente após evidências contundentes: o cabotegravir reduziu o risco de infecção pelo HIV em até 90% em comparação com a PrEP oral — nenhum participante adquiriu o vírus enquanto estava em uso da injeção.

O cabotegravir

|  Foto: Divulgação | Ministério da Saúde

Impacto epidemiológico e potencial de economiaA introdução do cabotegravir pode evitar ao menos 385 mil novos casos de HIV no Brasil nos próximos 10 anos, segundo projeções da GSK, farmacêutica responsável pelo medicamento em parceria com a ViiV Healthcare. A estimativa aponta ainda uma possível economia de 14 bilhões de reais em custos com tratamento no mesmo período.Atualmente, a ViiV Healthcare, joint venture entre GSK, Pfizer e Shionogi, atende cerca de 698 mil pessoas com medicamentos antirretrovirais no Brasil, representando mais de 83% dos pacientes que recebem tratamento pelo SUS.Disponibilidade: quando e onde?Apesar de já aprovado pela Anvisa em junho de 2023, o uso do cabotegravir injetável pelo SUS ainda depende de avaliação pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS). A expectativa, segundo a GSK, é que a negociação com o Ministério da Saúde permita a implementação até o final de 2025.Na rede privada, a comercialização só será possível após a definição do preço pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).Em Salvador, a PrEP oral já está disponível em diversas unidades de saúde, incluindo o CEDAP, o Instituto Couto Maia, o Ambulatório de Atenção Especializada em Saúde LGBT e os SAE do Comércio, São Francisco e Marymar Novais.

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