Leia Também:
Wandinha 2ª temporada: veja datas e horários dos novos episódios
4 filmes nacionais que todos devem assistir, segundo Fernanda Torres
Os 5 filmes e séries imperdíveis que chegaram no streaming
Existem dados relacionados ao número de salas de cinema fora dos shoppings? Se sim, quais são?São poucas as salas de cinema de rua. A Ancine promoveu uma linha chamada Cinema da Cidade, mas essa linha infelizmente não foi desenvolvida a contento. Há também salas fora de shoppings com programação mais diversa, como o circuito Sala de Arte (Salvador), os cinemas da Fundação Joaquim Nabuco (Recife), o Cinema do Dragão (Fortaleza), o Cine Banguê (João Pessoa). No entanto, Rio Grande do Norte e Piauí não possuem salas com esse perfil. Seria importante uma linha específica da Ancine com apoio do BNDES para a construção de salas com esse perfil. Hoje, não há. São raros os casos de salas de cinema de rua no interior, mas destacam-se o Cine RT (Remígio – PB), Cine São José (Afogados da Ingazeira – PE) e Cine Veneza (Propriá – SE). A pesquisa identificou um caso curioso no Ceará: o Grupo Pinheiro mantém 13 salas de cinema vinculadas à sua rede de supermercados, distribuídas por seis cidades do interior.A partir da definição dos eixos que organizam os indicadores de pesquisa e seus aspectos transversais, um importante destaque refere-se às Políticas Públicas para o audiovisual. Como os últimos dois anos e meio, após a recriação do MinC, se desenvolveram em relação a esse aspecto para o cinema feito no Nordeste?Os aspectos transversais são fundamentais, porque convencionalmente considera-se a cadeia produtiva clássica apenas como “produção-distribuição-exibição”. Mas é preciso perceber que outros aspectos, como a formação, as políticas públicas, a infraestrutura, a crítica cinematográfica, a preservação, etc., são fundamentais para uma compreensão mais ampliada da cadeia produtiva. Quanto às políticas públicas, essa pergunta é complexa e mereceria um artigo a parte. Creio que a Ancine e o MinC têm avançado muito pouco no governo Lula 3. A Lei Paulo Gustavo e a Lei Aldir Blanc, sem dúvidas, trouxeram uma contribuição para o setor, em termos do crescimento da produção, especialmente no interior dos estados. No entanto, houve muitos equívocos e problemas de execução na LPG. Creio que a LPG foi uma grande oportunidade desperdiçada, cuja execução ficou muito abaixo do seu potencial, pela falta de uma visão mais sistêmica do setor e de um planejamento mais integrado. A próxima pesquisa da REMAPANE pretende ser uma análise do impacto da LPG no setor audiovisual do Nordeste. Estamos buscando financiamento para poder desenvolver essa pesquisa.A produção cinematográfica do nordeste responde por apenas 9% das obras registradas pela Ancine nos últimos 10 anos. Ao mesmo tempo, alguns dos filmes mais bem sucedidos em presença de público nos últimos dez anos são do Nordeste, como as comédias dirigidas por Halder Gomes e dois dos filmes de Kleber Mendonça Filho, Aquarius e Bacurau. A quais fatores você atribui esse fato de uma produção menor ter um retorno em bilheteria e um impacto midiático tão maior em relação a produções de outros estados?Em termos de longas-metragens, é preciso perceber que, apesar do expressivo crescimento do NE e de outras regiões, a produção audiovisual brasileira ainda é bastante concentrada em produtoras do RJ-SP. No entanto, a repercussão do cinema pernambucano mostra que as políticas públicas locais, se feitas com critério e mantidas em continuidade por um período razoável, elas dão resultado. A cultura não surge “do dia para a noite”. É preciso tempo para que uma cinematografia possa surgir e amadurecer. O cinema pernambucano é a prova viva disso, da importância da articulação de uma política federal com uma política local, somando esforços. O Ceará também é um caso particular, com um forte investimento em políticas de formação, com duas universidades de cinema (UFC e Unifor), além de diversos cursos de formação, como a Vila das Artes, o Dragão do Mar e o Porto Iracema, que atuam numa lógica complementar. O Ceará tem tanto sucessos comerciais (como os filmes espíritas da Luz Filmes e as comédias de Halder Gomes) quanto filmes de grande potencial artístico (como os de Karim Ainouz, Petrus Cariry e os filmes do antigo Coletivo Alumbramento, como Guto Parente).Um dos destaques pontuados como fator essencial para a ampliação do número das mostras de cinema no período pós pandemia foi a Lei Paulo Gustavo. Você é otimista em relação a novas políticas de incentivo ao audiovisual? Sugeriria mudanças em relação à sua aplicabilidade? Se sim, quais?O apoio do Estado, as políticas públicas, são fundamentais para o desenvolvimento de qualquer cinematografia, uma vez que vivemos sob um mercado ocupado pelo produto estrangeiro, pelos blockbusters globais. Ao mesmo tempo, é fundamental que essas políticas alimentem toda a cadeia produtiva, e não só o setor de produção. Falta ao governo uma política mais estratégica, com base em indicadores sólidos, para a elaboração de uma política audiovisual mais ampla. Por exemplo, uma dimensão fundamental que as políticas públicas precisam avançar muito mais é na formação de públicos. As políticas públicas para o audiovisual brasileiro não devem atender somente aos cineastas e produtores, mas devem visar sobretudo à sociedade. As políticas precisam atuar numa outra lógica sistêmica, invertendo o eixo de suas prioridades, pensando não só na oferta mas também no acesso na inclusão e no consumo dos bens e serviços culturais.Em relação aos agentes econômicos registrados pela Ancine, o livro traz dados relacionados à centralização de empresas produtoras nas capitais do Nordeste, que, em 2024, sediavam 74,1% das empresas produtoras da região.Sim. Um grande desafio para o desenvolvimento do mercado audiovisual brasileiro é a interiorização. As políticas públicas vêm ignorando o grande potencial econômico e cultural de expansão dos interiores. Uma saída para os atuais impasses do mercado audiovisual é a expansão do consumo e da produção de cultura e audiovisual para além das capitais.