Escritora Ana Maria Gonçalves é eleita para ABL


Com uma escrita que entrelaça memória e ancestralidade africana, a escritora foi escolhida para ocupar a cadeira de número 33. Ana Maria Gonçalves é eleita para a cadeira 33 da ABL
A Academia Brasileira de Letras elegeu nesta quinta-feira (10) a escritora Ana Maria Gonçalves, a primeira mulher negra a ocupar a cadeira da ABL em 128 anos de história.
Duas mulheres receberam votos na eleição desta quinta-feira (10): Ana Maria Gonçalves, 30 votos; Eliane Potiguara, 1 voto. Com uma escrita que entrelaça memória e ancestralidade africana, a escritora, roteirista e dramaturga Ana Maria Gonçalves foi escolhida para ocupar a cadeira de número 33 – lugar que, por 25 anos, foi do gramático Evanildo Bechara, considerado um dos maiores estudiosos da língua portuguesa. O acadêmico morreu em maio, aos 97 anos.
Ana Maria Gonçalves nasceu em Ibiá, Minas Gerais. Já atuou como empresária, agente cultural e pediu demissão do trabalho de publicitária, em São Paulo, para morar na Bahia, onde começou a escrever livros. Em 2002, lançou, de forma independente, “Ao lado e à margem do que sentes por mim”, uma ficção autobiográfica.
Quatro anos depois, publicou “Um defeito de cor”, considerado pela crítica um dos livros mais importantes do século 21. O romance conta a história de Kehinde, uma das lideranças da Revolta dos Malês, que aconteceu em Salvador, em 1835. A personagem foi inspirada em Luísa Mahin, mãe do advogado e abolicionista Luís Gama, que nasceu livre, mas foi vendido pelo próprio pai quando tinha 10 anos. Em 2024, o livro deu origem ao enredo da Portela. “Um defeito de cor” também inspirou uma exposição de arte.
Com quase mil páginas, a obra não trata apenas da presença do povo negro no país. Conta a história do Brasil do ponto de vista de uma mulher negra – perspectiva que Ana Maria Gonçalves traz com ela para a Academia. A chegada da escritora à ABL é um convite à escuta, à revisão da nossa história e à celebração de uma literatura diversa.
Ana Maria Gonçalves será a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na ABL desde sua fundação, em 1897.
“Quem é que tem um livro que desfila na Sapucaí? Quem tem um livro que foi eleito o livro mais importante desse primeiro quartel do século 21? Enfim, uma intelectual ativa, atuante, diversa, plural e que vai mostrar como uma instituição como a ABL é aberta ao passado, de olho nesse nosso presente mas que quer mesmo é abocanhar o futuro. E o futuro no Brasil só pode ser diverso”, diz a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz.
“Acredito, no caso específico dela, dessa extraordinária literata que foi eleita hoje, uma ampliação muito grande da presença da Academia na vida brasileira. Junto aos leitores, junto aos apreciadores da literatura, aos apreciadores das discussões sobre integração”, afirma Gilberto Gil.
Uma conquista que vai além da cadeira. Rompe barreiras, emociona e inspira.
“Vem uma grande historia na cabeça até aqui, de pensar na menininha leitora que eu fui e pensar o que ela diria se tivesse vendo essa história de hoje acontecer. Eu acho que eu não venho sozinha, venho a partir de uma tradição em que a gente louva, respeita e traz junto toda uma ancestralidade, toda… É uma honra e uma responsabilidade, e é uma alegria de estar lá junto com todo mundo que vem junto comigo”, diz Ana Maria Gonçalves.
Escritora Ana Maria Gonçalves é eleita para ABL em 128 anos de história
Reprodução/TV Globo
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